Quando eu era pequena, na minha cidade – Avaré – no
interior paulista, era costume na passagem de ano, a companhia elétrica apagar
as luzes da cidade.
Todas as luzes!
Sim, a cidade ficava às escuras e era um momento MUITO esperado
por todos.
Era véspera do dia primeiro do ano. As crianças excitadas
com o que ia acontecer, os adultos esperando ao redor de uma mesa, sentados ou
em pé, as taças de champanhe ou vinho (às vezes o licoroso mesmo) nas mãos
esperando a meia noite para fazer o brinde... De repente, silêncio...
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1....... ESCURIDÃO TOTAL!
Gritaria, abraços, cumprimentos. Tudo misturado á intensa
alegria de todos. Era o novo ano que iniciava.
Por muito tempo eu pensei que do ano velho para o ano
novo existia um hiato. Sim, um lapso de tempo em que o mundo parava, as pessoas
ficavam sem respirar e daí... começava um novo ano – novinho em folha!
O novo ano, para mim, era sempre muito alegre, pelo menos
era o que aparentava. Pessoas rindo, se abraçando, bebendo, comendo, enfim,
COMEMORANDO.
Era uma época de compartilhar, de reencontrar pessoas, de
rever fatos e histórias acontecidas, de colocar metas para a nova etapa da vida
que iniciava. Não existia tristeza. As pessoas - aos meus olhos infantis –
estavam radiantes, esperançosas, animadas.
Quando a luz voltava a aparecer, depois de desligada pela
Companhia de Força e Luz, parecia que tudo de ruim havia sido deixado para
trás.
Sim, um novo ano, uma nova vida, um novo começo. Um banho
de luz e energia revigorante.
60 - e agora????
Agora nada. Continua igual. Sem hiato, sem lapso de
tempo. Apenas o início de mais um ano de vida. Com alegrias e tristezas
próprias do cotidiano. Com encontros e reencontros. Com chegadas e partidas.
Assim como no ano novo... O mundo não para!
A luz que acende é a de uma nova etapa com projetos, sim.
Uma energia que invade o coração e inunda todo o ser.
Aos olhos da “menina” de 60 anos, o rito de passagem não
é mais feito pelo apagar de todas as luzes da cidade, mas sim pelo reencontro
de amigos queridos de tantos anos.
Sim, celebramos com
bebida, comida, abraços, beijos e algumas lágrimas sorrateiras, talvez. A luz
se acenderá nos nossos corações infantis.
Relembramos passagens nas quais fomos protagonistas.
Rimos muito e várias fotos são tiradas, todas elas com pose para esconder as
“imperfeições” que a vida nos coloca.
"Murcha a barriga"! Levanta o queixo"! Fica meio de lado"!
A foto pode ficar melhor, porém nada é mais lindo e
gratificante do que ter amigos e poder festejar com eles nosso aniversário de
60 anos!
Sinto agora a mesma emoção da infância do apagar das
luzes, só que desta vez, a energia revigorante me traz serenidade para iniciar
um novo ano, uma nova etapa.
Obrigada amigos por existirem. Obrigada por
compartilharem comigo suas vidas. Obrigada por estarem comigo nesta “virada”.
Julho 2013
Maravilhoso texto, Leila!!!! Real, sutil, magnífico!!!
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