quarta-feira, 25 de junho de 2014

SÃO JOÃO acende a fogueira no meu coração!




O balão vai subindo, vai caindo a garoa,
O céu é tão lindo e a noite tão boa.
São João, São João,
Acende a fogueira no meu coração!

           
Santo católico nascido a 24 de junho, primo de Jesus Cristo, é festejado “com as alegrias transbordantes de um deus amável e dionisíaco”, segundo Câmara Cascudo.
Comemora-se sua data de nascimento com fartura de alimentos, músicas, danças, bebidas, adivinhações, prognósticos do futuro. Segundo a crença popular, o santo adormece durante o dia e não vê as comemorações ruidosas, pois se ele estiver acordado, vendo as fogueiras acesas em sua homenagem, não resistirá, descerá do céu para acompanhar as comemorações e o mundo acabará em chamas!

São João está dormindo
Não acorda não,
Acordai, acordai, acordai João!

Tradição que nos chegou da Europa onde se comemora o solstício do verão e quando as populações rurais festejam a proximidade da colheita com fogueiras, danças ao redor delas e também saltos sobre elas.
Aqui no Brasil, a tradição de se atravessar a fogueira andando sobre as brasas ainda se mantém. Na cidade de Bocaina, interior de São Paulo essa prática se verifica todo noite de São João, a mais comprida do ano!
A bebida mais difundida para as essas festas é o quentão, mistura de cachaça, gengibre e MUITOS outros ingredientes que as pessoas vão adicionando e criando novos sabores.
A colheita do milho realizada nesta época colabora com as inúmeras receitas de doces e salgados para a festa assim como o amendoim. Pamonha, curau, canjica, canjiquinha, milho assado ou cozido, paçoca, pé de moleque, pé de moça, e tantas outras delícias encontramos nas festas e quermesses espalhadas por esse Brasil.
Na cidade de São José dos Campos no Vale do Paraíba, SP, tem um bolinho feito de farinha de milho que não pode faltar em nenhuma festa desta época, é o bolinho caipira motivo de disputa entre algumas cidades do Vale para ver de quem é a primazia de tê-lo inventado.
Polêmicas à parte, o bolinho é delicioso e já conta com diferentes receitas para o recheio sendo considerado patrimônio cultural.

SP: Bolinho caipira, típico do Vale do Paraíba, é patrimônio cultural. Conheça a história e veja receita em http://oesta.do/1plF1WF #comida

Foto: Tadeu Brunelli/Estadão


Assim São João vai sendo comemorado pelo Brasil afora.
Não posso deixar de lembrar a prática de se podar as roseiras no dia de São João e de dar pequenos golpes de facão nos troncos das mangueiras para que deem mais flores e frutos. Costumes populares que permanecem até hoje.
VIVA SÃO JOÃO!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

99 ANOS – DUZOLINA MÃOS DE FADA!

99 ANOS NÃO É PARA QUALQUER UM!!!!!


 Minha sogra faz 99 anos hoje, dia 19 de junho de 2014.
Chamada pela família de Duza ou apenas Du, teve mãos de fada. Digo teve, porque há alguns anos não faz mais seus lindos trabalhos em crochê ou tricô. Na foto acima estava com 97 anos.
Com extrema habilidade nas mãos brindou-nos com maravilhosos xales, blusas, vestidos, toalhas, colchas, cintos, gravatas e até biquínis de crochê – esses na década de 1970, hipies que éramos!
Eram criações coloridas, com fios dourados ou prateados, lisas, listadas, com pontos que pareciam rendas, outros mais fechados – ponto segredo, ponto baixo, ponto alto e o lindo crochê tunisiano... Tudo vindo das mãos de Duza!
E os doces! Ah os doces! Que delícia!
Fazia todos os docinhos de aniversário de minhas filhas, além do bolo e dos vestidos. Pois é, também costurava! Não é o máximo?
Nas festinhas trabalhávamos juntas – eu inventava o tema, fazia os enfeites e ela confeccionava os quitutes. Que dupla!
Foi ela também quem ensinou minhas filhas a fazerem bolachas. Com extrema paciência ia fazendo os rolinhos de massa e as meninas cortando com as mãos (mãozinhas abertas, dedos fechados e com o lado do minguinho iam cortando vagarosamente os rolinhos). Encostadas na pia, de pé em banquinhos sentiam-se importantes – estamos ajudando a vovó!
Era farinha por todo lado. A cozinha ficava branca, mas as meninas felizes. Criavam figurinhas de massa – um patinho, um nozinho, uma bolinha, uma circunferência, uma trança... E lá iam elas criando. Nada de avental. Roupa, chão, rosto... Brancos! 
Depois era só fazer chá e degustar as bolachas.
Foram anos de convivência muito juntas – eu, minhas meninas, meu marido e ela, a Mãos de Fada! Chegamos a morar no mesmo prédio. Dizem que parentes não devem morar próximos - longe o bastante para ir à pé nem perto o bastante para se ir de chinelo - mas nós não ligamos para esse ditado popular – pegávamos o elevador e pronto chegamos!
Tenho muitas lembranças maravilhosas com ela. Não dá para registrar num texto apenas. Nunca foi minha sogra como o senso comum descreve e sim minha segunda mãe.
Ajudou-me muito, me ensinou muito, me agradou muito me fez muito feliz. Aos 99 anos ainda me manda beijos e sorri pra mim.

OBRIGADA DONA DU. A SENHORA ESTARÁ SEMPRE NO MEU CORAÇÃO.


sexta-feira, 13 de junho de 2014

SANTO ANTONIO





O meu padre Sant´ Antonio
É santo de Portugal;
Livra gente do demônio,
É remédio contra o mal;
Ele acha as coisas perdidas,
Aplaca ondas do mar
E até metido num poço,
Com água até o pescoço
Faz muita moça casar.

(Responso popular coletado por U. Plentz)


            Santo Antonio de Lisboa-Pádua é primariamente santo da Igreja Católica celebrado na liturgia. Sua vida não foi uma lenda assim como não foram lendas suas virtudes heroicas. Primeiro ocorreu a canonização de Santo Antônio, o culto seguiu-a. Depois disso, por várias razões, a devoção popular tomou conta do santo, o folclore se apoderou dele.
Santo das coisas perdidas, (o santo que procurava os escravos fugidios era o mais antipático dos oragos – o amarrador, por alusão aos “capitães do mato”) e o casamenteiro, este bastante popular.
As moças casamenteiras submetem o santo aos maiores suplícios na esperança de serem prontamente atendidas: tiram o menino Jesus de seu colo só devolvendo quando conseguirem a graça pedida; viram o santo de cabeça pra baixo; tiram-lhe o resplendor; atam o santo com uma corda e colocam-no dentro de um poço (nos sítios e fazendas ainda é assim que se pede); e tantos outros “castigos” prévios.
Por associação aos “capitães do mato”, algumas moças incluem nas suas orações imagens dos grilhões, algemas, laços e nós - objetos que eram usados para a captura dos escravos fugidios.

Meu Santo Antônio querido,
Eu voz peço, por quem sois;
Dai-me o primeiro marido,
Que o outro arranjo depois.

Meu Santo Antônio querido
Meu santo de carne e osso,
Se tu não me dá marido
Não tiro você do poço.[1]

Também os rapazes pedem casamento:

Meu Santo Antônio,
Eu te dou um vintém
Se tu arranjares
A moça que quero bem

Até processado já foi o Santo. Conta-se que em finais do século XVIII havia na fazenda Queimadas uma pequena capela de Santo Antônio, construída por sua proprietária. A senhora deu ao santo padroeiro, muitas terras e escravos. Passado algum tempo, um dos escravos cometeu um crime de morte. Santo Antônio, seu proprietário, sofreu então um processo. Foi tirado do altar, amarrado com cordas e levado à um júri que o condenou a perder seus bens que foram arrematados por pessoas do lugar.[2]
Se foi verdade ou não, perguntem ao santo que nessa cumbuca não ponho minha mão!


           


[1] Essa trovinha está registrada no Dicionário do Folclore Brasileiro de Luís da Câmara Cascudo onde se pode saber mais sobre a devoção popular a esse santo.

[2] História retirada do livro Santo Antônio Popular, de Frei Ildefonso Silveira, O. F. M.