sábado, 6 de junho de 2015

Corpus Christi



 A Procissão de Corpus Christi

A preparação para a procissão de Corpus Christi demandava muito tempo e vários preparativos. Era a década de 1960, em Avaré – minha cidade de nascimento – e todos se mobilizavam para a decoração das ruas. Nas escolas, os professores de desenho se empenhavam em criar imagens que retratassem a ocasião com ícones religiosos como o cálice, a hóstia, Maria, Jesus, o Divino - representado pela pombinha, e assim por diante.
            Previamente se sabia o roteiro da procissão e quais as ruas em que ela passaria, não deveria haver carros estacionados ou qualquer outro obstáculo que atrapalhasse o processo todo. Vou contar sobre o processo todo!
            Nos meses que antecediam a data, todos (ou quase todos) na cidade recolhiam e guardavam tampas de garrafa, maços de cigarro vazios e pó de café (usado). Nas escolas, turmas de alunos eram selecionadas para os diversos trabalhos e planos de execução eram montados: grupo 1 seria responsável pelas tampinhas; grupo 2 pelos maços de cigarros e assim por diante, de modo que vários grupos realizavam várias tarefas ao mesmo tempo.
            Aqueles responsáveis pelas tampinhas deveriam desamassá-las e embrulhá-las com o papel alumínio que o grupo responsável pelos maços de cigarro retirava deles – portanto, era um trabalho de integração. Tampinhas prateadas, azuis, amarelas e vermelhas iam surgindo e sendo estocadas. O pó de café era colocado ao sol para secagem e também estocado.
            O grupo que, para mim, era o mais divertido era o que ralava as ramas de mandioca, por dois motivos: era o de pessoas mais velhas e o de maior responsabilidade, devido ao perigo da situação. Esse grupo ia até as fazendas onde havia plantação de mandioca, pegava as ramas já colhidas, lavava, descascava e ralava, produzindo o material branco tão necessário às asas dos anjos, e ao Divino, por exemplo. Também esse material era estocado à espera da hora certa para ser levado à cidade.
            Não me lembro de quanto tempo isso tudo demandava nem de quem eram as fazendas, mas eram meses de preparação e muita dedicação dos proprietários que nos ajudavam.
            Na véspera da procissão, todo o material já estava devidamente separado nas escolas. Na madrugada do dia de Corpus Christi, lá pelas três ou quatro horas da manhã, os professores saiam pelas ruas riscando no chão o desenho mais difícil, normalmente os das esquinas. Nós, os alunos, chegávamos lá pelas cinco horas da manhã para iniciar os trabalhos e riscar os desenhos repetidos, em módulos iguais, fazendo os tapetes ao longo das ruas.
            O frio era intenso. A neblina turvava os olhos. A alegria também era intensa... Assim, em meio ao frio, à neblina e à algazarra geral eram produzidos os tapetes onde passaria o Corpo de Cristo.
            Os pais traziam lanches no meio da manhã e as pessoas costumavam passear nas calçadas para ver os enfeites. A festa era total.
            “Olha o cachorro”!!!!! “Não deixa que ele estrague o desenho”!!!!! Segura daqui espanta dali.... E continuávamos na lida. Que delícia! Vez em quando os professores passavam para conferir e colocar ordem na folia... Éramos jovens e barulhentos...
            À tarde era nossa vez de conferir os desenhos de todos. Passeávamos ao largo dos tapetes para ver quem fez o desenho mais bonito. Lá pelas cinco da tarde a procissão passava.
            O cortejo em cima do tapete, o povo ao redor e as crianças atrás recolhendo tampinhas coloridas para brincar.
            Recordações de um tempo muito feliz, construtivo e de harmonia. Professores, alunos, sociedade, religiosos, todos juntos para a comemoração.


terça-feira, 7 de abril de 2015

Chose de Lóc


 Foi no ano de 1982 que nós as professoras da Escola Monteiro Lobato, (São José dos Campos, SP) da época, juntamente com algumas coordenadoras fundamos um coral, o “Chose de lóc”, nome esse emprestado de um quadro televisivo de Jô Soares.
Regido pela professora de música Luiza e com canções escolhidas por todos apresentamos um repertório brasileiro onde se sobressaia “O trenzinho do caipira” de Heitor Villa-Lobos – daí esse cenário. Além de cantarmos tocávamos alguns instrumentos – flauta e percussão – aprendidos durante os ensaios... Que dureza!
Foram dias de muita alegria. Nos ensaios parecíamos crianças cantando, tocando, brincando e estreitando os laços de nossa amizade.
Até para tirar fotografia era um sufoco... Olhem pra frente meninas!
 Nilze, Ligia, Magali, Cleonice, Dinah, Nilce, Vera, Leila, Sueli, Rosane e sua filha Flávia, Cida...ufa! quase todas olhando pra frente...
 
Algumas pessoas permanecem na escola, outras não pertencem mais ao quadro de funcionários, porém – e esse é meu caso – no coração a Escola Monteiro Lobato ficará para sempre.

Parabéns Monteiro por todos esses anos cuidando, ensinando, construindo, participando, engrandecendo esse nosso país.


 

quarta-feira, 11 de março de 2015

A sombrinha de Rutinha






Cho Cho Cho Jo di
Cho Jo di nui ua ua!
Tsu tsu tsu qui o na mi nadete
coi coi coi...

            Cantava e dançava rodando bem devagarzinho sua sombrinha multi colorida apoiada graciosamente nos ombros... Rutinha minha amiga japonesa.
            A sombrinha de papel pintado tem muitos desenhos japoneses. Flores, pássaros, nuvens... As varetas fininhas seguram o papel - são de bambu.
            No giro leve os pássaros parecem voar... As nuvens mudam de lugar e as flores... Ah! As flores parecem que exalam seu perfume por todo o espaço.
            Cantando, girando e dançando. Afinadíssima! Faz uma roda imaginária e gira de um lado e depois do outro.
            Imitando seus gestos ia eu tentando ser tão delicada quanto ela... Sem conseguir.
            Rutinha era bem mais baixa que eu. Mignon, como se diz. Mãos pequenas, dedos afilados com unhas rentes. Voz calma e olhar fechadinho e tranquilo.
E eu... Ah! Eu jogava basquete... Alta, grandalhona, olhos grandes, nariz saindo BEM pra fora do rosto e a boca com muita carne nos lábios...
Tentando ser uma “gueixa” de trejeitos suaves e belos!
Há! Há! Há! Quanta pretensão!
Ela deslizava na canção... Eu? Bom, melhor não dizer.       

 
O i ra no to mo data
Ponco po pom no pom pom pom
Maqueruna maqueruna
Oxossani
Maqueruna...

            Canta.
            Gira a sombrinha.
Dança, faz e refaz a roda... tantas vezes até a música acabar.
E a música continua.
 

Coi Coi Coi  Coi Coi Coi
Minadete
Coi Coi Coi

...A leveza de Rutinha jamais consegui!

quinta-feira, 5 de março de 2015

CARA METADE



Não sei quando nos tornamos um
Não sei se foi ontem ou em tempo algum...
Só sei que metade de mim cabe em você
E sua metade em mim!
 


As mesmas rugas, o mesmo nariz
O formato do rosto... Só a boca... 
 Ah! Sorri pra mim???
 


Óculos pendurados ajudam olhar.
Cabelos ralos...
O seu natural
O meu?Naturalmente tinto!
 


Em 40 anos de casados fomos nos moldando...
Fomos nos fundindo... 
 Eu em você, você em mim.