CICLO DA QUARESMA
Conhecida na Europa como o Ciclo da Páscoa, compreende a Quaresma,
época de penitência, que são os 40 dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até o
Domingo de Páscoa e também a Semana
Santa.
Há aí costumes medievais como, por exemplo, o Grupo de Recomendas (ou recomendação) de Almas, já citado no texto anterior. Consequência
de antigas sugestões dos Evangelhos há a pratica de silêncio de quinta-feira ao
sábado santo, jejum de alimentos, abstinência, representações dramáticas da
Paixão de Cristo e a malhação de Judas, recodificação cristã romana do rito do
fogo morto.
Às sextas-feiras, ao
toque da meia noite, quando as cidades e povoados estavam ermos, quando os Lobisomens,
as Caiporas, e as Mulas-sem-Cabeça corriam o fado, soavam nos ares o troar da
matraca e o badalar da campa sinistra, que anunciavam o préstito em movimento.
De repente, ao afinar
derradeiro dos instrumentos, apercebia-se ao longe – à porta das igrejas, ou
lugar convencionado para a reunião – vultos amortalhados de branco, com a
cabeça coberta, deixando apenas ver a boca e os olhos, esclarecidos por
pequenas lanternas de papel ou de folha-de-flandres, com a luz voltada para o
rosto.
A um momento dado,
findos os preparos, os encomendadores das almas desciam lentos de sua soturna
estância e, rompendo a marcha, a campainha vibrava metálica, a matraca batia, a
procissão desfilava tétrica, pavorosa e de fazer arrepiar os cabelos.
Constava a tradição
que só homens podiam tomar parte nessas romarias em favor dos condenados de
além-túmulo, sendo proibido, sob pena de morrerem assombradas às mulheres e
crianças afrontar o preceito lendário.
E a serenata da
morte, escoltada de superstições e de duendes, começava os seus noturnos, as
suas capelas cantadas, prolongando-se até mais de uma hora, fazendo estações
aqui e ali, difundindo o pavor em seu trânsito incerto e cheio de assombro.
Assim Mello Moraes Filho descreve a procissão da recomenda.
Ainda hoje, em cidades mineiras encontra-se a Procissão do Fogaréu, como é chamada por lá e, em Sevilha – Espanha – essa mesma procissão
é realizada por cavaleiros puxando correntes para aumentar o barulho das
matracas.
Superstições aliadas à religião ajudam a construir a
cultura de muitos países, entre eles Portugal e Espanha, aqueles que trouxeram
para o Brasil esses costumes tradicionais.
O quadro acima é de J R Santos, o Zizi, artista mineiro.
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