sábado, 16 de fevereiro de 2013

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS – Quaresma


Em tempos de Quaresma - na década de 1960 - em pequenas cidades do interior de São Paulo, como aquela em que nasci não era permitido ouvir música que não fosse sacra. A rádio local tocava hinos e nas casas, a vitrola ou “sonata” ficava muda.
“Não canta menina” ouvia minha mãe dizer, “se não nasce rabo em você”! Diz ela que essa superstição foi trazida para casa pela Albertina, a moça que trabalhava conosco.
Nós tínhamos muito medo de ganhar rabo, mas ao mesmo tempo não acreditávamos muito naquilo, não. Até que um dia, quando estava indo para a escola vi um rabo de boi perdido na rua. QUE PAVOR!!!!! Logo pensei, é de alguém...alguém perdeu o rabo...não quero ter um rabo nunca!!!!! A partir desse dia, não cantava nem em pensamento!
Superstições fazem parte da cultura popular em qualquer tempo e servem para educar também. No caso que citei, era uma maneira, talvez a única, de fazer com que as crianças não mais cantassem as músicas de carnaval e respeitassem o período de recolhimento, orações e penitências desses 40 dias anteriores à Páscoa.
Quaresma é tempo de recomenda, recomendação ou encomenda de almas. Grupos de homens encapuzados e amortalhados, saem - ou saíam -pelas ruas à noite cantando, rezando e com instrumentos exorcistas, como a matraca e o berra-boi, pedindo aos mortos que nos deixem em paz.
Existe a crença de que as almas daqueles que não morreram de morte natural (ou morte morrida como ouvi de um informante), são as que atormentam os vivos e, portanto, são carentes de orações e recomendas.
Enquanto passa o grupo de recomendadores, é melhor que não se abram as janelas e nem olhem para trás para não enxergar as almas que vagam no espaço.
Crenças desse Brasil plural!

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