“Uma crise só se torna um desastre quando respondemos a ela
com juízos pré-formados, isto é, com preconceitos” (Arendt, 2005, p.223).
Inicio esse texto refletindo sobre o que é ser professor
educador. Espero chegar à uma conclusão.
Pede-se muito aos professores, demasiado, até. Espera-se
que remediem as falhas de outras instituições, também elas com
responsabilidades no campo da educação e formação dos jovens. Pede-se-lhes
muito, agora que o mundo exterior invade cada vez mais a escola, principalmente
através dos novos meios de informação e comunicação. ...Com ou sem razão, o
professor tem a sensação de estar isolado... Quer, antes de tudo, ver
respeitada a sua dignidade. (MEC/UNESCO, 2003, p. 26/27)
É assim que está no Relatório para a
UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, iniciado em
1993 e concluído em 1996. Não é de hoje que se fala em educação de qualidade, mas o que é isso?
Segundo o Relatório, na atualidade,
os “espaços educativos tradicionais” não mais existem em grande parte das
comunidades, assim a igreja, a família, os vizinhos, não mais exercem a função
de coeducar passando também essa responsabilidade para a escola. Assim a
escola, além de instruir deverá educar – no sentido mais amplo da palavra.
Tarefa
árdua, complicada e nem sempre com resultados satisfatórios.
Segundo Queiroz, “Uma das maneiras
mais proveitosas de se dar a conhecer uma área de conhecimento é traçar-lhe a
história, mostrando como foi variando o seu colorido através dos tempos...”
(LAPLANTINE, 2005, prefácio). A educação no Brasil começa com a chegada dos
jesuítas a essa terra, estabeleceram escolas e iniciaram o ensino da leitura e
escrita.
De lá para cá muita coisa mudou, o
que começou como escola para índios, gradativamente se expande aos filhos dos
gentios e cristãos. “O colégio, contudo, era o grande objetivo...” (Paiva,
2007, p. 43) e a intenção era a “adesão plena à cultura portuguesa”... O
proposto pela pedagogia jesuítica era a prática das virtudes, o amor das virtudes
sólidas” (idem p. 50).
Num grande salto temporal e de ideias, chego à Constituição
Federal de 1988 onde se determina, entre outras coisas, a gratuidade em todo o
ensino público. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – há
a normatização do ensino estabelecendo que:
A
educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais.
§ 1º Esta Lei
disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio
do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação
escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
Art.
2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
Muitas resoluções e atos normativos vêm sendo
criados sempre com o intuito de melhor educar/escolarizar os brasileiros.
Em síntese, mesmo receando ser
sucinta demais, a legislação prega que a educação é dever da família e do estado e infelizmente, no meu entender, as
duas instituições não estão cumprindo com sua obrigação. E aí, o professor é
prejudicado na sua função de instruir. Se valores são ensinados pela família, a
escola/professor utiliza esses
valores éticos, culturais previamente ensinados. Quando não se tem consciência
deles fica muito mais difícil ensinar/exigir/avaliar.
Nos dias atuais onde os meios de
comunicação e informação se modernizam a cada segundo, seu uso fica um pouco
sem critérios. A Internet disponibiliza conteúdos dos mais diversos, com autoria,
sem autoria, com credibilidade ou não e isso tem entrado nas escolas como, às
vezes, a única fonte de pesquisa.
O problema não está na Internet e sim no uso que fazemos
dela. A imensa quantidade de informação que lá existem não nos dá direito de
copiá-los e assiná-los como sendo de nossa autoria. Aprender com o conteúdo sim. Utilizá-lo como referencia sim, mas há
que se preocupar com os direitos autorais.
“Se enxerguei mais longe do
que outros, foi apenas porque me apoiei nos ombros de gigantes”.
Ninguém
constrói nada, seja um trabalho literário, uma pesquisa, um objeto, sem
basear-se em outras pesquisas e objetos já existentes. Se começássemos sempre do
zero, nunca chegaríamos à evolução. “apoiar-se
em ombros de gigantes”, como falou Issac
Newton é imprescindível para ultrapassarmos o primeiro passo. Apoiar-se.
Como professora/educadora acredito
que é meu dever evidenciar ao aluno
que sua maneira de pensar e agir são originários de sua vivência e educação:
escolar, familiar, comunitária.
“Imagine um educador que me diga: quando ensino sintaxe
não tenho outra preocupação senão a de que o aluno aprenda a sintaxe do verbo
haver, por exemplo. Eu, enquanto professor, quando ensinava o aluno a conjugar
o verbo haver, me preocupava intensamente em que o aluno fosse ético. E não
apenas que ele falasse gramaticalmente e sintaticamente certo” (FREIRE, 2004,
p. 183).
E assim procuro direcionar minha
prática educativa. Com erros e acertos, com alegrias e tristezas nesses meus 36
anos de magistério. De crise em crise, apoiando-me em ombros de gigantes,
caminho com o firme propósito de educar ensinando.
Referências
Bibliográficas
A
construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas.
Christian Laville e Jean Dionne. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda.;
Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.
Educação
um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2003.
ARENDT,
Hannah. Entre o passado e o futuro. São
Paulo: Perspectiva, 2005.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da tolerância. São
Paulo: Editora UNESP, 2004.
LAPLANTINE,
Françóis. Aprender Antropologia. São
Paulo: Brasiliense, 2005.
POZO
Juan Ignatio. Aprendizes e mestres. Porto
Alegre: Artmed Editora, 2002.
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