terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ser professor!

“Uma crise só se torna um desastre quando respondemos a ela com juízos pré-formados, isto é, com preconceitos” (Arendt, 2005, p.223).

           
Inicio esse texto refletindo sobre o que é ser professor educador. Espero chegar à uma conclusão.

            Pede-se muito aos professores, demasiado, até. Espera-se que remediem as falhas de outras instituições, também elas com responsabilidades no campo da educação e formação dos jovens. Pede-se-lhes muito, agora que o mundo exterior invade cada vez mais a escola, principalmente através dos novos meios de informação e comunicação. ...Com ou sem razão, o professor tem a sensação de estar isolado... Quer, antes de tudo, ver respeitada a sua dignidade. (MEC/UNESCO, 2003, p. 26/27)

            É assim que está no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, iniciado em 1993 e concluído em 1996. Não é de hoje que se fala em educação de qualidade, mas o que é isso?
            Segundo o Relatório, na atualidade, os “espaços educativos tradicionais” não mais existem em grande parte das comunidades, assim a igreja, a família, os vizinhos, não mais exercem a função de coeducar passando também essa responsabilidade para a escola. Assim a escola, além de instruir deverá educar – no sentido mais amplo da palavra.
            Tarefa árdua, complicada e nem sempre com resultados satisfatórios.
            Segundo Queiroz, “Uma das maneiras mais proveitosas de se dar a conhecer uma área de conhecimento é traçar-lhe a história, mostrando como foi variando o seu colorido através dos tempos...” (LAPLANTINE, 2005, prefácio). A educação no Brasil começa com a chegada dos jesuítas a essa terra, estabeleceram escolas e iniciaram o ensino da leitura e escrita.
            De lá para cá muita coisa mudou, o que começou como escola para índios, gradativamente se expande aos filhos dos gentios e cristãos. “O colégio, contudo, era o grande objetivo...” (Paiva, 2007, p. 43) e a intenção era a “adesão plena à cultura portuguesa”... O proposto pela pedagogia jesuítica era a prática das virtudes, o amor das virtudes sólidas” (idem p. 50).            
Num grande salto temporal e de ideias, chego à Constituição Federal de 1988 onde se determina, entre outras coisas, a gratuidade em todo o ensino público. Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – há a normatização do ensino estabelecendo que:
A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

             Muitas resoluções e atos normativos vêm sendo criados sempre com o intuito de melhor educar/escolarizar os brasileiros.
            Em síntese, mesmo receando ser sucinta demais, a legislação prega que a educação é dever da família e do estado e infelizmente, no meu entender, as duas instituições não estão cumprindo com sua obrigação. E aí, o professor é prejudicado na sua função de instruir. Se valores são ensinados pela família, a escola/professor utiliza esses valores éticos, culturais previamente ensinados. Quando não se tem consciência deles fica muito mais difícil ensinar/exigir/avaliar.
            Nos dias atuais onde os meios de comunicação e informação se modernizam a cada segundo, seu uso fica um pouco sem critérios. A Internet disponibiliza conteúdos dos mais diversos, com autoria, sem autoria, com credibilidade ou não e isso tem entrado nas escolas como, às vezes, a única fonte de pesquisa.
O problema não está na Internet e sim no uso que fazemos dela. A imensa quantidade de informação que lá existem não nos dá direito de copiá-los e assiná-los como sendo de nossa autoria. Aprender com o conteúdo sim. Utilizá-lo como referencia sim, mas há que se preocupar com os direitos autorais.
            “Se enxerguei mais longe do que outros, foi apenas porque me apoiei nos ombros de gigantes”. Ninguém constrói nada, seja um trabalho literário, uma pesquisa, um objeto, sem basear-se em outras pesquisas e objetos já existentes. Se começássemos sempre do zero, nunca chegaríamos à evolução. “apoiar-se em ombros de gigantes”, como falou Issac Newton é imprescindível para ultrapassarmos o primeiro passo. Apoiar-se.
            Como professora/educadora acredito que é meu dever evidenciar ao aluno que sua maneira de pensar e agir são originários de sua vivência e educação: escolar, familiar, comunitária.

            “Imagine um educador que me diga: quando ensino sintaxe não tenho outra preocupação senão a de que o aluno aprenda a sintaxe do verbo haver, por exemplo. Eu, enquanto professor, quando ensinava o aluno a conjugar o verbo haver, me preocupava intensamente em que o aluno fosse ético. E não apenas que ele falasse gramaticalmente e sintaticamente certo” (FREIRE, 2004, p. 183).
           
            E assim procuro direcionar minha prática educativa. Com erros e acertos, com alegrias e tristezas nesses meus 36 anos de magistério. De crise em crise, apoiando-me em ombros de gigantes, caminho com o firme propósito de educar ensinando.


Referências Bibliográficas
A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Christian Laville e Jean Dionne. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda.; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.
Educação um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2003.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da tolerância. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
LAPLANTINE, Françóis. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2005.
POZO Juan Ignatio. Aprendizes e mestres. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

 


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