Os sobrados, alguns pintados de cores que contrastam as paredes
com os ornamentos, as sacadas de ferro batido, as colunas todas enfeitadas com
arabescos, as portas de madeira entalhadas, tudo isso nos remete a uma época de
vida mais calma, quando as horas passavam calmamente e as pessoas tinham mais
tempo para criar, fazer e apreciar o belo.
Ainda hoje podemos ver as árvores frutíferas no centro
paulistano, como na Rua Florêncio de Abreu onde existe um grande sobrado
abandonado, cujo quintal está sendo utilizado como estacionamento, e tem
jabuticabeiras na sua entrada! E os detalhes em cada janela, em cada porta...
Passear no centro de São Paulo com olhos de ver nos
proporciona muitas alegrias e nos faz refletir sobre temas como conservação do
patrimônio cultural brasileiro, seja ele material ou imaterial, tão rico e
plural.
Nos faz pensar sobre a importância de se ter nas escolas uma disciplina
que ensine as crianças a entender, através de uma foto, por exemplo, a história
contida nela. Retirar da imagem a história, a cultura, a vivência cotidiana, os
costumes reconstruindo a antropologia cultural de um povo.
Ao começar a escrever sobre esse tema – o centro da capital,
os textos criaram alma própria e me levaram a outros caminhos, como o antes de São Paulo, a viagem até esse destino,
seus preparativos, a chegada à capital e tudo mais. Também me fez ver que falar
um pouco sobre Avaré – cidade de origem das viagens - seria importante para
situar as duas realidades tão diversas: Avaré e São Paulo, na mesma época, a década
de 60/70.
Épocas históricas iguais para tempos
diferentes.
Enquanto Avaré tinha, em 1970, aos cento e nove anos uma
população de cerca de 38.000 habitantes, São
Paulo já contava com 5.924.615 de habitantes.
Casas térreas no interior e altos edifícios na capital;
carros, bondes e ônibus na capital, enquanto no interior fazia-se tudo à pé, de
bicicleta ou de charrete de aluguel; elevador e escada rolante absolutas
novidades.
As ruas no interior serviam de espaço para inúmeras
brincadeiras – pular corda, amarelinha, bolinha de gude, bola, etc. As famílias
sentavam-se à porta das casas para conversarem enquanto as crianças brincavam
sob seus olhares atentos. Ali se trocavam receitas, se sabia a respeito das
pessoas, se convivia.
Na capital (no centro pelo menos) nas ruas não se via
crianças brincando e nem senhoras sentadas em cadeiras na calçada tricotando e
trocando saberes.
Quanta diferença!
Costumes que
assustaram e encantaram a criança viajante!
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