Ao limpar uma cristaleira, retirando um de meus colares feito por indígenas brasileiros, percebi que estava arrebentado... Tristeza!
Por quê? É tão lindo! Nunca mais terei outro igual!
VOU CONSERTAR e ponto final.
FINITUDES!
Estou envolvida (racionalmente) com finitudes há alguns
anos. Tenho vários parentes queridos bem idosos e isso faz com que eu conviva
com a finitude diariamente. E como é difícil!
Mas, voltando ao colar, essa experiência de ter mais um
artefato indígena estragado – são potes de cerâmica que se quebraram, colares
arrebentados, abanos esgarçados, objetos de fibra natural que criaram
bichinhos... – o que me fez refletir sobre o SER indígena e sua maneira de
vida.
Desde que comecei a me inteirar mais profundamente
sobre o modo de vida dos índios brasileiros, suas culturas, as etnias, suas
diversas linguas, venho aprendendo muito. Inicialmente apenas registrando,
depois refletindo e escrevendo sobre fatos, leis, vivências[1] e
aprendendo sempre e cada vez mais. E agora isso... colares desfeitos e objetos
perdidos!
Os objetos criados pelos indígenas são produzidos com
matéria prima natural, ou seja, fibras naturais, sementes, penas, barro, coisas
que se deterioram com o tempo e acabam por estragar o artefato criado com elas.
Em um primeiro momento, poderíamos pensar que eles
próprios são (ou nós mesmos) somos “feitos” de matéria prima natural e
deteriorável... Mas a questão que quero levantar não é essa. A questão é qual a
importância da duração “sem fim” de um objeto. Para que? Se já o utilizamos, se
já cumpriu sua função, é mais que normal que ele seja substituído.
COMO ISSO É DIFÍCIL!
A memória do que existiu é importante, nos completa e
nos ensina. Saber o que foi feito e como foi feito nos acrescenta saberes. Não
é importante guardar o objeto e sim o que ele nos representa ou
representou.
Não
deveríamos ser acumuladores de coisas e sim de saberes. E fazer como os indígenas que
transmitem seus saberes aos mais novos... Sim, quem transmite são os líderes e
idosos, pois é deles a maior vivência, a maior experiência sobre como e o que fazer. Essa deveria ser também a função dos museus – guardar
para ensinar e não para acumular, para ter.
Todos os meus artefatos indígenas guardam uma história.
Sei onde e de quem comprei e de quem ganhei alguns deles. Sei como foram feitos
e do que. Busquei saber por que eram assim construídos e me alegrei quando
expus em minha casa, nas minhas aulas, no meu corpo.
Sim, a finitude existe e é compreensível e menos
dolorosa quando se entende sua razão. Estou fotografando todos os objetos para
melhor difundir, explicar, ensinar.
Agradeço aos irmãos indígenas esse ensinamento, dentre
outros. Agradeço pela beleza que me mostraram, pela gentileza com que sempre
fui tratada. Agradeço por me ensinarem a viver com mais simplicidade.
[1] São duas pós-graduações – mestrado e doutorado – com esse tema e
um livro publicado – Arari´wa: escola na mata.
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