sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

FINITUDES!



 


Ao limpar uma cristaleira, retirando um de meus colares feito por indígenas brasileiros, percebi que estava arrebentado... Tristeza!

Por quê? É tão lindo! Nunca mais terei outro igual!
VOU CONSERTAR e ponto final.
       
FINITUDES!
Estou envolvida (racionalmente) com finitudes há alguns anos. Tenho vários parentes queridos bem idosos e isso faz com que eu conviva com a finitude diariamente. E como é difícil!
Mas, voltando ao colar, essa experiência de ter mais um artefato indígena estragado – são potes de cerâmica que se quebraram, colares arrebentados, abanos esgarçados, objetos de fibra natural que criaram bichinhos... – o que me fez refletir sobre o SER indígena e sua maneira de vida. 
Desde que comecei a me inteirar mais profundamente sobre o modo de vida dos índios brasileiros, suas culturas, as etnias, suas diversas linguas, venho aprendendo muito. Inicialmente apenas registrando, depois refletindo e escrevendo sobre fatos, leis, vivências[1] e aprendendo sempre e cada vez mais. E agora isso... colares desfeitos e objetos perdidos!
Os objetos criados pelos indígenas são produzidos com matéria prima natural, ou seja, fibras naturais, sementes, penas, barro, coisas que se deterioram com o tempo e acabam por estragar o artefato criado com elas.


Em um primeiro momento, poderíamos pensar que eles próprios são (ou nós mesmos) somos “feitos” de matéria prima natural e deteriorável... Mas a questão que quero levantar não é essa. A questão é qual a importância da duração “sem fim” de um objeto. Para que? Se já o utilizamos, se já cumpriu sua função, é mais que normal que ele seja substituído.

COMO ISSO É DIFÍCIL!
A memória do que existiu é importante, nos completa e nos ensina. Saber o que foi feito e como foi feito nos acrescenta saberes. Não é importante guardar o objeto e sim o que ele nos representa ou representou.
Não deveríamos ser acumuladores de coisas e sim de saberes. E fazer como os indígenas que transmitem seus saberes aos mais novos... Sim, quem transmite são os líderes e idosos, pois é deles a maior vivência, a maior experiência sobre como e o que fazer. Essa deveria ser também a função dos museus – guardar para ensinar e não para acumular, para ter.
Todos os meus artefatos indígenas guardam uma história. Sei onde e de quem comprei e de quem ganhei alguns deles. Sei como foram feitos e do que. Busquei saber por que eram assim construídos e me alegrei quando expus em minha casa, nas minhas aulas, no meu corpo.
Sim, a finitude existe e é compreensível e menos dolorosa quando se entende sua razão. Estou fotografando todos os objetos para melhor difundir, explicar, ensinar.
Agradeço aos irmãos indígenas esse ensinamento, dentre outros. Agradeço pela beleza que me mostraram, pela gentileza com que sempre fui tratada. Agradeço por me ensinarem a viver com mais simplicidade.  


[1] São duas pós-graduações – mestrado e doutorado – com esse tema e um livro publicado – Arari´wa: escola na mata.

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