Nos idos anos de 1988,
fundamos o Piropiraquara em São José dos Campos. A ideia surgiu dentro do
grupo de aproveitamento de folclore PIRAQUARA, por sua vez, fundado em 1984.
O Piraquara
tinha como meta realizar pesquisas sobre o folclore da região e transformá-las
em apresentações cênicas com o intuito também de ensinar, propagar, difundir e
preservar a cultura popular.
Com essas pesquisas pudemos notar que o carnaval de
rua, aquele que as pessoas da comunidade participam fazendo críticas aos
acontecimentos, criando fantasias em casa com materiais que já possuem, se
encontrando para brincar, era um dos fatos folclóricos da cidade e também da região.
Resolvemos, então, reativar essa manifestação. O grupo
Piraquara se reuniu e refletiu como seria a melhor maneira de colocar em
prática essa ideia.
Foi
aí que surgiu o Piropiraquara!
No inicio, com pouca gente participando, uma banda em
cima de um caminhão, a boa vontade das pessoas e muita vontade de continuar com
o resgate, a preservação e a divulgação de nossa cultura popular.
Saímos da Praça Afonso Pena – local da Fundação
Cultural Cassiano Ricardo na época – e percorremos as ruas e avenidas do Centro
de São José dos Campos. Conforme íamos passando, as pessoas desciam de seus
apartamentos, já fantasiadas, e nos acompanhavam.
Na foto, eu estou de “palhaço verde-amarelo” com uma
gravata em que está escrito – “até
quando?” numa clara alusão ao descontentamento em relação ao que acontecia
no Brasil na época.
Ao meu lado, está minha amiga querida Helena Weiss, de
branco, criticando o descaso com a saúde
brasileira e denunciando o aparecimento da AIDS. A outra pessoa mostra uma
placa – Césio – que lembra a descoberta de um artefato num espaço público - uma
praça ou terreno baldio - que continha esse produto altamente tóxico e que foi
manuseado por pessoas, sem o menor cuidado.
As meninas se vestem de mortalha – a morte da educação brasileira – a da
direita é minha filha mais velha, então com 9 anos.
Será
que alguma coisa mudou desde aquele ano?
Será que continuamos palhaços sem voz? A saúde no
Brasil e a educação estão bem atendidas? E os lixões?
Essa
foto é de 1988. Quais serão as críticas deste ano? Será
que o Piropiraquara mantém o espírito reflexivo, crítico e ativo? Será que a
meta de pesquisar, resgatar, ensinar, propagar, difundir e preservar a cultura
popular ainda se mantém?
O Brasil que eu
quero, mereço e trabalho para ter é aquele em que as crianças são respeitadas no seu direito à
educação, seus cidadãos não são agredidos com ameaças de contaminação, e os indivíduos
são parte de um todo e não cidadãos indivíduos sem deveres.
Que venha a alegria! Que venha a diversão, mas que
venha a responsabilidade também!
Vamos às ruas para brincar sem deixar de lado nossa
indignação e perplexidade ante os acontecimentos sociais, culturais, políticos
e econômicos atuais.
ALÔ
PIROPIRAQUARA! Façamos História!
Vamos
às ruas festejar sem deixar de sermos críticos.